São Paulo – Pesquisa Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) mostra que 47% dos dependentes de crack
que frequentavam a cracolândia – região de intenso tráfico e consumo de drogas
no centro de São Paulo – disseram que se submeteriam a um tratamento. A maior
parte deles, 62,3%, expressaram o desejo de parar de usar drogas.
“O dado é muito relevante, pois
aponta que existe uma vontade do usuário de interromper o uso”, disse o
psiquiatra Marcelo Ribeiro, um dos coordenadores da pesquisa e diretor de Ensino
da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp.
Uma parte menor dos entrevistados
(18,8%) declarou que gostaria de se submeter a um tratamento que permitisse
apenas diminuir o consumo, e 18,9% não desejam interromper ou diminuir o consumo
da droga. A pesquisa, divulgada hoje (10), ouviu 170 dependentes de drogas em
dezembro de 2011. Foram 102 homens e 68 mulheres - 10% delas estavam
grávidas.
De acordo com o levantamento, 51%
dos usuários disseram acreditar que conseguiriam parar de consumir crack
sem internação, enquanto 34% manifestaram que aceitariam que o tratamento
da dependência da droga envolvesse, ocasionalmente, uma internação
involuntária.
“Isso mostra que, em parte, o
usuário reconhece que fica refém da doença a ponto de só conseguir se curar se
houver uma intervenção mais incisiva, mesmo que à revelia. Apesar de a maioria
dos usuários não concordar com a internação compulsória”, apontou o
psiquiatra.
A pesquisa mostra também que a
maioria dos usuários (61%) já se submeteu a algum tratamento contra a droga.
Entre as organizações que ofereceram tratamento estão a igreja (53%),
organizações não governamentais (22%), projetos sociais do Poder Público (10%),
família ou amigos (5%), casas de recuperação (2%) e 8% não informaram quem
ofereceu.
“Ou a participação do Poder Público
foi pequena ou foi pouco enxergada por eles. Há ações da prefeitura e do estado
ali, mas não são vistas pelos usuários como alternativas. Para a imensa maioria
deles, o Poder Público nunca lhes ofereceu nada”, disse o médico.
Em relação aos recursos para comprar
o crack, 59% declararam ter dinheiro próprio para obter a droga, 13%
reconheceram que roubam, 13% disseram que recorrem à troca de objetos pessoais,
12% obtêm os recursos de esmolas, 9% de furtos, 9% de dinheiro obtido da venda
de objetos de família, 11% trocam droga por sexo e 13% obtêm recursos da
prestação de serviços ao traficante.
O levantamento mostra ainda que
cerca de 30% dos dependentes sofreram algum tipo de violência na cracolândia.
Seis mulheres disseram ter sido vítimas de abusos sexuais de outros usuários.
Mais da metade dos dependentes (54%) já foram detidos ou presos. Entre eles, 46%
informaram que o motivo da detenção foram relacionados ao consumo de
crack.
Fonte: Agência Brasil
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