sábado, 22 de outubro de 2011

Enfermeiros em vez de médicos nas Clínicas da Família do Rio


O pronto atendimento nas Clínicas da Família começou a apresentar sintomas de mal estar na população. Em busca de consultas nessas unidades de saúde, pacientes afirmam que, no lugar de médicos, são enfermeiros que atendem, examinam e até prescrevem nos consultórios.
Foi o que aconteceu com a operadora de caixa Ana Cristina de Medeiros, de 26 anos. Preocupada com a febre de três dias da filha, Andressa, de apenas três meses, ela procurou a Clínica da Família Valéria Gomes Esteves, em Sepetiba. No local, segundo ela, a recém-nascida foi atendida e liberada por uma enfermeira, sem a supervisão de um médico.
— Cheguei lá e pedi um pediatra, mas disseram que o atendimento era com a enfermeira, pois ela é quem diria se precisaria ou não de um médico. Ela examinou minha filha, disse que o pulmão estava limpinho e a liberou em seguida, sem a presença de nenhum médico no consultório. Mas, quando tossia, dava para sentir o catarro no pulmão — conta.
A babá Vanessa de Oliveira Monteiro, de 20 anos, que é cunhada de Ana, passou pela mesma situação. Grávida de três meses, ela começou a fazer o pré-natal com a mesma enfermeira que atendeu Ana.
— Já sabia sobre a falta de médicos lá. A enfermeira me pesou, olhou a ultrassonografia e me receitou sulfato ferroso e ácido fólico um vez por dia, sempre na hora do almoço. Fico preocupada porque tenho cistos nos ovários — disse Vanessa.
Assinatura de médico sem exame clínico
Casos parecidos também são comuns na clínica da família Dr. José Antônio Ciraudo, em Santa Cruz. Com dores no corpo e nos olhos, o bombeiro hidráulico Fabricio Rodrigues da Silva, de 31 anos, também foi atendido por um enfermeiro.
O funcionário assinou o pedido de um hemograma completo e, segundo Fabricio, saiu da sala e voltou com uma receita assinada por um médico.
— Só vi que era enfermeiro quando li o pedido do exame.
Diagnóstico errado
O pedreiro Elomir da Silva Lopes, de 39 anos, passou por situação parecida. Com um forte incômodo na garganta, ele procurou a Clínica da Família e foi atendido por um enfermeiro. Desconfiado, buscou atendimento de um especialista dias depois e descobriu que o problema era no estômago.
— O enfermeiro mandou eu abrir a boca, olhou a garganta e me liberou, pedindo para eu beber líquido. Desconfiado, fui a um médico particular e ele diagnosticou problema no estômago – disse ele.
Moradora de Santa Cruz e na quinta gravidez, a dona de casa X, de 37 anos, que não quis se identificar, conta que jamais viu o médico que assinou a receita dos remédios para controle da pressão arterial que recebeu das mãos de uma enfermeira. Ela era paciente da Clínica da Família Sérgio Arouca, em Santa Cruz, quando isso aconteceu.
— Fui examinada pela enfermeira, que me prescreveu vários medicamentos. Mas na hora de assinar, ela levou a receita lá para dentro para o médico carimbar e rubricar. Eu sequer o vi — diz X.
A presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Márcia Rosa de Araujo, não aprova a ação e lembra que eles só podem atender pacientes com a supervisão de um médico.
— Isso é uma ilegalidade, uma forma de enganar a população. Todos vestem branco e ninguém sabe se são médicos ou não. Até os enfermeiros obstétricos só podem atender supervisionados por um médico. Como podem fazer pré-natal, se não fizeram medicina? — questiona.
O presidente do Sindicato do Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, tem a mesma opinião.
— O médico deve estar presente na sala com a enfermeira. A supervisão é um ato de presença física do profissional. Não existe supervisão à distância. A enfermeira pode deixar de perceber algo que um médico perceberia — argumenta Jorge Darze.
‘Enfermeiro não é auxiliar de médico’
O presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ), Pedro de Jesus Silva, afirmou que o enfermeiro pode realizar todo o pré-natal de parto normal.
— Enfermeiros obstétricos fazem um ano a mais de especialização em obstetrícia. Além disso, os enfermeiros podem fazer o primeiro atendimento, examinar e receitar medicamentos estabelecidos em programas do governo federal, como o Saúde da Mulher e o Saúde do Homem — diz.
Mas Pedro condena a liberação de pacientes sem qualquer avaliação médica.
— Paciente só é liberado por médico. A não ser que esteja inscrito num desses programas e tenha ido até a unidade de saúde com consulta marcada. Caso contrário, enfermeiro não é auxiliar de médico e não pode transmitir prescrição. O Coren repudia tal ato, que deve ser denunciado. O enfermeiro classifica e o médico atende. O médico tem que examinar.
A Secretaria municipal de Saúde informou que, de acordo com a Lei federal 7.498, que regulamenta o exercício do enfermeiro, é permitido a esse profissional “a prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde”. Segundo o órgão, o enfermeiro avalia e faz a classificação de risco, encaminhando o paciente para o médico conforme a necessidade.
Fonte: Fala Médico

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