Brasília – A insatisfação de cardiologistas e anestesistas de Belém
levou-os a cancelar a realização das chamadas cirurgias eletivas,
aquelas agendadas com antecedência por hospitais públicos municipais e
particulares. Embora distintas, as mobilizações de cardiologistas e
anestesistas têm motivações comuns: reivindicações financeiras.
Segundo a Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas no Estado do Pará,
os cerca de 130 profissionais que atendem a pacientes do Sistema Único
de Saúde (SUS), em 16 hospitais da capital paraense, interromperam suas
atividades porque querem que a Secretaria Municipal de Saúde libere R$
1,2 milhão que deixou de pagar desde junho deste ano. A cifra equivale à
soma dos valores que a secretaria deveria ter pago a título de
complementação ao que é pago pelo SUS por procedimentos cirúrgicos e
ambulatoriais. Os anestesistas também exigem que a secretaria renove o
contrato com a cooperativa, vencido desde janeiro deste ano.
“Estamos tentando negociar com a secretaria desde janeiro, mas o
pessoal vem cozinhando a gente. Como estamos trabalhando há quatro meses
sem receber [a complementação], os médicos estão preferindo trabalhar
em outros locais, atendendo a clientes de outros convênios. Por isso,
decidimos suspender o atendimento dos procedimentos eletivos e só
atender às urgências e emergências”, comentou o presidente da
cooperativa, Luis Paulo Mesquita.
Após admitir que a suspensão dos serviços está afetando o atendimento
hospitalar na rede pública, a secretaria municipal encaminhou à Agência Brasil nota em que diz que providenciará parte do pagamento dos valores atrasados “o mais breve possível”.
Já os cardiologistas decidiram suspender as cirurgias eletivas marcadas
por usuários do Plano de Assistência dos Servidores Estaduais (PAS), o
segundo convênio em número de usuários no estado. Embora a suspensão
prejudique a usuários de todo o Pará, na prática, atinge apenas aos da
capital. Isso porque, no estado, cirurgias cardíacas só são realizadas
em Belém, onde cinco hospitais particulares atendem ao convênio dos
servidores estaduais. Os 14 profissionais em atividade na capital
aderiram ao movimento.
De acordo com o presidente da Cooperativa dos Cirurgiões
Cardiovasculares do Pará (Coopercardio), Alberto Mauro Anijar, desde o
ano passado a categoria tenta negociar com o Instituto de Assistência
dos Servidores do Estado do Pará (Iasep) a correção dos valores pagos
por procedimentos cirúrgicos realizados por intermédio do PAS. De acordo
com Anijar, a tabela de honorários usada pelo instituto está em vigor
desde 1992.
Ele disse ainda que o instituto paga cerca de R$ 1,5 mil por uma
cirurgia cardíaca de ponte de safena, valor que é dividido entre a
equipe que, em geral, chega a sete pessoas. Além disso, a equipe recebe
não apenas pela cirurgia, mas por todo o procedimento que, da internação
ao pós-operatório, dura, em média, dez dias.
De acordo com Mauro, o SUS
paga cerca de R$ 3 mil pelo mesmo serviço, mas com o valor complementar
pago pela Secretaria Municipal de Saúde, o ganho pode chegar a R$ 5
mil.
“Nós não paramos totalmente o atendimento. As urgências e emergências e
os pacientes que estavam previamente agendados, que já tinham o
procedimento autorizado pelo plano, estão sendo operados”, disse Anijar à
ABr, reforçando que a suspensão afeta apenas os
procedimentos eletivos, como cirurgias de cardiopatia congênita, de
válvula, revascularização do miocárdio, entre outras situações em que o
quadro do paciente é considerado estável. De acordo com o médico, em
média, 15 usuários do PAS são submetidos a cirurgias cardíacas eletivas
mensalmente.
Em nota, o Iasep garantiu que, ontem (5) e hoje, as cirurgias cardíacas
foram realizadas normalmente. Quatro hospitais de Belém aceitam o
convênio para esse tipo de procedimento: Saúde da Mulher, Porto Dias,
Hospital do Coração e Beneficente Portuguesa. O Iasep informou à ABr
que o reajuste dos honorários só pode ser feito com base em um estudo
que avalie a viabilidade financeira do instituto e a defasagem do valor
pago ao prestador de serviços, no caso, o hospital credenciado. Além
disso, o reajuste deve ser analisado e aprovado pelo governo estadual e
pela Assembleia Legislativa.
Fonte: Agência Brasil
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