terça-feira, 5 de abril de 2011

AMEAÇA DE BRANCO

A manifestação de gestores de que a não contratação de médicos para o SUS se deve a sua falta no mercado de trabalho nos leva a reflexões.

A primeira diz respeito ao desconhecimento dos números estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a outra a má fé e, uma terceira, ao temor que nutrem pelos homens e mulheres de branco de branco. Esta última nos parece a mais adequada.

O branco assusta, não é só porque a cor transmite sensação de limpeza e higiene. Não é só uma questão de “mãos limpas”. Assusta pelo que representa.

É o conhecimento técnico o responsável pelo preenchimento de páginas em branco, pela supressão de lacunas científicas e desenho de novos caminhos.

Os contemporâneos de Galileu, como Giordano Bruno que o digam, não foram poucos os homens e mulheres de branco que enfrentaram fogueiras.

Atualmente o repeteco da inquisição se apresenta aqui e ali com outros contornos. Como na idade média as “bruxas” foram culpadas pela peste negra, agora os médicos são apresentados como os responsáveis pela crise da saúde.

Aproveitando o discurso midiático revelador da crise na saúde há gestores que apontam para o outro lado, a falta de profissionais. “Nós fazemos concursos, mas não conseguimos preencher os quadros porque poucos se inscrevem e os que são aprovados não permanecem!”

Escamoteiam a verdade, a incapacidade de gestão. A ausência de uma política de recursos humanos que fixe o profissional no serviço público. Não se dão nem ao luxo de copiar outros modelos do próprio serviço público. Modelos das carreiras da Advocacia da União, do Ministério Público, das Carreiras da diplomacia e dos militares.

Mas o que, efetivamente, está por de trás de tudo isso é uma questão de poder. Poder que é ameaçado pela dificuldade de trabalhar com os que detêm o conhecimento, o temor do enfrentamento de argumentos técnico-científicos. O conhecimento é a verdadeira ameaça aos que por hora estão no poder.

Como contra fatos e fundamentos técnicos faltam argumentos, culpam o MEC que não cuidou de abrir novas vagas em medicina e os médicos que nestes tempos abandonaram o sacerdócio e não querem trabalhar filantropicamente.

Ai entende-se o porquê defendem a delegação de responsabilidades médicas a outros profissionais de saúde.

A questão de fundo é o temor do confronto como os que detêm o conhecimento, chamado de poder médico. Galileu que o diga, o branco ameaça “Epur si Muove!”

* Mario Antonio Ferrari

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